Inovação não é somente uma boa ideia. Parceria, trabalho de equipe, investimento, adequação, avaliação, ética e visão de futuro são bases vitais para o êxito nos projetos.



Novos tempos exigem novas posturas. Empreendedorismo, por assim dizer, é uma extensão da universidade, quando esta desenvolve ações originárias de seus trabalhos e projetos de pesquisa. Porém, um estudo e uma pesquisa, sem aplicabilidade em sociedade, não representam efetivamente inovação, nem propiciarão um legado. Educação empreendedora, capacidade de identificar cenários, refletir constantemente, idealizar soluções inovadoras, assumir riscos e responsabilidades, e estar sempre aberto a aprender são valores fundamentais – a todos os profissionais, de todas as áreas – nos dias de hoje.

Faz parte da missão das universidades conectar os seus alunos com o mercado e com a sociedade. A universidade deve potencializar e inspirar sempre o empreendedorismo, o “sonho grande” e a inovação no seu aluno. Mas será que as universidades estão preparadas para orientar e incentivar a postura empreendedora tanto dos docentes quanto dos discentes?

Para mais reflexão nesse campo, o Centro de Apoio à Pesquisa no Complexo de Saúde da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAPCS-UERJ) conversou com a professora Marinilza Bruno de Carvalho, diretora do Departamento de Inovação da Uerj – InovUerj. Vejamos orientações pontuais, e pensemos sempre tecnologia como estratégia de crescimento e desenvolvimento social e humano.


CAPCS-UERJ – Empreendedorismo e Universidade. Em um de seus livros, há a citação: “a chave do futuro é a educação e o caminho é o empreendedorismo e a inovação”. De imediato, que construções temos a fazer?

Marinilza Bruno de Carvalho – Se analisarmos de modo reverso, podemos arguir: como o mundo vai se desenvolver e crescer? Já foi dada a resposta como sendo processos e produtos inovadores, pois comprovado está que os modelos atuais não atendem mais as demandas da sociedade.

Daí vem outra questão: quem vai produzir processos inovadores e promover o desenvolvimento na sociedade?

Pessoas capacitadas, com visão de futuro, flexíveis e que possam agregar valor e liderar equipes. Este é o conceito de perfil empreendedor, o que se torna inviável sem o conhecimento mínimo de matemática/raciocínio lógico, português/línguas, gerência de pessoas, liderança, leitura de cenários e outros conceitos necessários a realização de ideias inovadoras. Importante lembrar que inovação não é só uma boa ideia.


CAPCS-UERJ – Prosseguindo nesta análise… Definição de empreendedorismo e perfil de um (a) bom (a) empreendedor (a)…

Marinilza Bruno de Carvalho – Empreendedor é aquele que faz. Não precisa florear o conceito, nem pensar que é abrir um negócio. O empreendedor é aquele que resolve os problemas em casa, no trabalho, com os amigos, lidera grupos, propõe soluções a todo tempo que se lhe apresentado uma questão.

Um empresário precisa de um empreendedor para desenvolver sua empresa. Pode ser ele mesmo ou outra pessoa com este perfil e um empreendedor precisa de investidor para desenvolver sua proposta e deve ser bom o suficiente para convencer este empresário a investir na sua ideia/proposta.


CAPCS-UERJ – A ação empreendedora de um aluno ou de qualquer pessoa em geral é resultado de quê… E como potencializá-la?

Marinilza Bruno de Carvalho – Ação empreendedora é uma ação articuladora que promova o empreendedorismo entre as pessoas. Ou seja, pode ser uma rodada que conecte pessoas com ideias e pessoas com recursos. Pode se uma palestra que capacite pessoas a desenvolver uma visão de futuro com flexibilidades para novas ideias e soluções. Em resumo qualquer atividade que induza pessoas na promoção de resultados e soluções novas, aprimorando seu perfil para visão de futuro, negociação e liderança.

 


Universidade


CAPCS-UERJ – Fale-nos um pouco, sobre o InovUerj – Departamento de Inovação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), do qual a senhora é diretora. Como surgiu este departamento?

Marinilza Bruno de Carvalho – Em 2000, o Ato Executivo de Decisão Administrativa nº 008/REITORIA/2000 cria o Programa de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia – PITT cujo objetivo era desenvolver o processo de proteção intelectual e transferência de tecnologia como politica de inovação e transferência de conhecimento.

Em 2001, é dado entrado no INPI no Primeiro pedido de Patente e em 2003 é aprovado no Conselho Universitário da UERJ, a Deliberação de Premiação de Autor, Del-57/2003.

Em 2012, Ato Executivo do Reitor transforma o programa de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia – PITT no Departamento de Inovação – InovUerj. Vinculado diretamente à SR2 – Sub-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, o InovUerj visualiza o conhecimento e foi idealizado para criar e manter uma linha de comunicação direta, clara e produtiva entre as potencialidades acadêmicas e as necessidades da sociedade, além de promover a inovação, articular, planejar, orientar, elaborar procedimentos, monitorar, acompanhar, formalizar e disseminar a cultura da propriedade intelectual e a prática das ações inovadoras, bem como o desenvolvimento de processos, produtos e serviços em parcerias internas e com os segmentos, nacional e internacional, de governo e sociedade.

 


CAPCS-UERJ – Em que perspectivas atua o InovUerj?

 Marinilza Bruno de Carvalho – O InovUerj atua na perspectiva de identificar e apoiar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras, proteger a propriedade intelectual, promover a transferência de conhecimento e estimular a interação entre a UERJ e a sociedade, visando a contribuir para o desenvolvimento social e econômico do Estado.

Nesse sentido, atua em nível central, cuidando das atividades referentes às Incubadoras, Empresas Juniores e Parques Tecnológicos em suas integrações e relações com as diversas áreas da UERJ e da sociedade, submetendo-se aos princípios atinentes às Leis da Inovação Nacional e do Estado do Rio de Janeiro e aos postulados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

Missão: articular e promover a inovação tecnológica e social entre os setores da academia e da sociedade.

Visão: ser o agente de transformação da sociedade através da inovação.

Desta forma, o InovUerj, com suas metodologias e política de inovação, prospecta a inovação desenvolvida na Universidade, identifica o seu tipo e valor, promove os registros conforme a Lei, licencia e negocia para a sociedade, sempre de modo a garantir a autoria do corpo acadêmico e a titularidade da instituição.

 


Ética


CAPCS-UERJ – Muito se fala em ética.  Como interpretar esta preocupação, e aqui nos referimos, sobretudo, ao âmbito da proteção da propriedade intelectual?

Marinilza Bruno de Carvalho – O conceito é cumprido na medida em que a UERJ se propõe a garantir a autoria dos desenvolvedores e sua titularidade. A falta de ética está quando não conseguimos cumprir esta missão e outros tomam posse, utilizam e se beneficiam de produtos, processos e serviços que não são de sua autoria ou direito. Neste sentido temos elaborado vários acordos, modelos de parcerias, contrato e convênios de modo a auferir toda ética que é cabida em todos os casos. Incluímos também cursos e palestras sobre o tema.


CAPCS-UERJ – Muitas vezes, a luta pelo lucro faz o profissional moderno perder a capacidade de perceber que é preciso reconhecer a realidade e questionar os velhos padrões?

Marinilza Bruno de Carvalho – Certamente. E com ética e valores morais poderemos transformar esta prática, com metodologias que possam garantir o direito de todos.


CAPCS-UERJ – Hoje, os novos paradigmas apontam para a importância das pessoas-profissionais-cidadãos e patrimônio intelectual da instituição, isto é, o conhecimento gerado e acumulado por seus funcionários. No âmbito da Universidade, qual(is) o(s) principal(is) obstáculo(s) que ainda precisa(m) ser superado(s)?

Marinilza Bruno de Carvalho – O desconhecimento. Em 26 anos, muito se adiantou, mas novos profissionais chegaram e o corpo discente novo precisa ser continuadamente orientado.


CAPCS-UERJ – Especificamente na área da Saúde, como vê hoje empreendedorismo e uso de tecnologias. E como acelerar o movimento de inovação em saúde?

Marinilza Bruno de Carvalho – A metodologia é a mesma, pois tratamos de pessoas em todas as áreas. A Saúde é um pouco mais fechada, mas com capacitação e orientação, podemos alavancar muita inovação e melhorar a vida das pessoas.


CAPCS-UERJ – Na gestão de um projeto, como perceber a diferença entre crescimento e continuísmo?

Marinilza Bruno de Carvalho – Nos resultados. Hoje o pedido de novas soluções é tangível. Fazendo as mesmas ações teremos sempre as mesmas soluções, ou quase sempre. Assim, é necessário analisar cenários e pessoas e promover as respostas e resultados diferentes que ainda não são conhecidos e nem testados. Exige estudo e análise de riscos.


CAPCS-UERJ – O medo do novo, da mudança e, supostamente, do fracasso, é um fator crítico que afeta muitos profissionais. Qual a melhor “terapêutica” …

Marinilza Bruno de Carvalho – Aprender com os erros é uma máxima antiga, mas muito pouco utilizada e pensada. Estamos muito no automático e as reflexões sobre o que fazemos e suas consequências ainda é muito pequena. Os cursos e capacitações ainda estão muito voltados para conteúdos e não para as pessoas.

Acredito na “terapêutica” de buscar seu sonho ou desejo, planejar, avaliar e trabalhar para ele com ética e valores morais. Também se deseja muitas coisas de modo rápido e com pouco trabalho, e isso acaba se tornando fator de aflição.


CAPCS-UERJ – Fale-nos um pouco sobre mecanismos de aprimoramento na educação continuada e de proteção do conhecimento.

Marinilza Bruno de Carvalho – Metodologias de projetos para solução de problemas. Registros das autorias e titularidade. Não é complicado, mas exige trabalho de equipe, dedicação, planejamento e muita negociação.


CAPCS-UERJ – Em relação à sociedade, o que podemos fazer – todos, no agora – para uma melhor resposta, com mais qualidade de vida e empregabilidade, por exemplo?

Marinilza Bruno de Carvalho – Projetos para solução de problemas. Registros das autorias e titularidade. Trabalho de equipe, muita dedicação, planejamento e muita negociação. O conceito de sucesso deve ser objetivo atingido; e não fama e glória.



Por Felipe Jannuzzi
Jornalista do CAPCS-UERJ