Dados da literatura demostram que 1,2 a 31% dos pacientes pediátricos que receberam alta das Unidades de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) em países desenvolvidos serão internados novamente a qualquer momento. A reinternação, inclusive, tem sido usada por algumas agências nacionais de divulgação, como a Centers for Medicare & Medicaid e a National Quality Forum, como medida de avaliação do padrão de qualidade dessas unidades.

Sendo assim, com o objetivo de avaliar as características dos pacientes pediátricos que são reinternados em um período de 1 ano em uma UTIP brasileira, Silva e Fonseca (2019) realizaram o estudo Which children account for repeated admissions within 1 year in a Brazilian pediatric intensive care unit?, recentemente publicado no Jornal de Pediatria.

 

Metodologia

Foi realizado um estudo retrospectivo em uma UTIP terciária brasileira.

Resultados

O resultado foi o número máximo de reinternações por cada criança em qualquer período de 365 dias durante um período de acompanhamento de 5 anos.

  • De 758 internações elegíveis, 75 (9,8%) pacientes haviam sido reinternados, representando 33% de todos os dias de cuidados com os pacientes internados na UTIP;
  • O tempo mediano para a reinternação foi de 73 dias para todas as reinternações;
  • A regressão logística evidenciou que as doenças crônicas complexas(razão de chance = 1,07), a deficiência cognitiva grave a moderada (razão de chance = 1,08) e o uso de suporte de aparelhos tecnológicos (razão de chance = 1,17) foram associados às reinternações;
  • As múltiplas internações tiveram duração significativamente prolongada em pacientes em ventilação mecânica (8 versus6 dias), maior tempo de permanência na UTIP (7 versus 4 dias), maior tempo de internação (20 versus 9 dias) e maior taxa de mortalidade (21,3% versus 5,1%), em comparação às internações iniciais.

 

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Conclusão

O estudo de Silva e Fonseca (2019) mostrou que a taxa de reinternações na UTIP em questão em um período de 1 ano foi baixa. No entanto, essa taxa foi associada a um número relevante de cuidados durante internação e piores desfechos.

De acordo com os autores, um índice de reinternação de 30 dias pode não ser adequado para refletir o número elevado de reinternações na UTIP. Além disso, o estudo demonstrou que os pacientes com doenças crônicas complexas, estado funcional ruim ou suporte de aparelhos tecnológicos correm maior risco de reinternações.

Os autores enfatizam, contudo, que futuras pesquisas que abordem o impacto das intervenções qualitativas sobre os serviços de saúde e as internações recorrentes são necessárias.

Por Roberta Esteves Vieira de Castro

– Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ);

– Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) no Rio de Janeiro.


Fonte: Portal PEBMED